Quando questionamos o ChatGPT ou o Gemini, nossa pergunta estabelece uma perspectiva (frame) que enviesa a análise.
Note, essas aplicações de IA generativa estão configuradas para responder às nossas dúvidas, e não para desafiá-las. Perante o estrategista, elas atuam como interlocutores dóceis, o que representa um risco para a tomada de decisão, dependendo da forma como usamos a ferramenta.
Um exemplo pode esclarecer a situação.
O Gemini é bastante competente na análise de ações negociadas em bolsas de valores, apesar de alucinar em alguns momentos. Parece ter sido muito bem treinado, recorrendo aos melhores repositórios de conhecimento e métodos de #finetuning e de #RAG. Ele interpreta os dados disponíveis na base do Google Finanças com um rigor técnico e um nível de detalhamento que impressiona até mesmo os analistas mais experientes.
Ao contrário deles, no entanto, o Gemini não questionará nossas perguntas sobre tais investimentos. Ele se limitará a respondê-las. Em nenhum momento, a IA vai sugerir que você faça uma pergunta diferente, que explore uma outra perspectiva (#reframing).
Assim, quando você pergunta sobre ações que estão em tendência de alta na bolsa de valores da B3, o Gemini não irá lhe alertar que, ao invés de se ater a esse escopo, seria melhor você explorar um outro ponto de vista, questionando, por exemplo, quais ações podem estar em uma região de suporte. Ele se limitará, no máximo, a fazer uma ressalva do tipo: “cuidado, ações em alta podem se desvalorizar ao atingirem uma região de forte resistência no gráfico de cotações ou ao divulgarem um balanço ruim, etc”.
A incapacidade de realizar o reframing dos problemas que lhe colocamos limita o valor de aplicações de IA como o Gemini na geração do insight verdadeiramente estratégico.
Eu diria que, como no caso do estudo de ações da bolsa, a ferramenta é excepcional para analisar aqueles dados que estão relacionados à nossa dúvida, mas omissa no que se refere a propor outros tipos de dúvida (outros escopos), o que seria crucial para quem, como o estrategista, precisa desesperadamente identificar pontos cegos e visualizar cenários alternativos (o estrategista pratica o reframing intensivamente).
De fato, aplicações de IA como o ChatGPT e o Gemini estão no ramo da predição. O estrategista, embora também recorra à predição, atua no ramo da disrupção – mais do que preditivo, ele é um profissional criativo.